Sob muitos aspectos, Terry não é muito diferente de muitos outros que apreciam fazer o trabalho de história da família. Ele passa muitas horas por semana indexando registros históricos por meio dos recursos do FamilySearch da Igreja. Muitas vezes trabalha lado a lado com outros usuários em seu centro de história da família local, situado adjacente a uma capela. Ele até já ajudou alguns deles a iniciar seu próprio Arquivo Pessoal de Ancestrais (PAF).
No entanto, diferentemente dos 4.600 centros de história da família em mais que 125 países em todo o mundo, arame farpado e policiais portando armas de fogo cercam as dependências usadas por Terry.
Interno nº 60132, na Prisão Estadual de Utah durante os últimos catorze anos, Terry nem sempre se interessou por história da família. Mas, há sete anos ele decidiu tentar o centro de história da família da prisão, dirigido por voluntários de A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
“Para mim, grande parte desse trabalho é ajudar os outros”, disse ele. “Sinto alegria em ajudar os internos a encontrar sua família. Tenho aqui uma oportunidade de refletir sobre minha vida. Agora só quero ser útil aos outros”.
O Élder David A. Bednar, do Quórum dos Doze Apóstolos, disse, durante a conferência geral de outubro de 2011: “O Espírito de Elias influencia as pessoas, de dentro e de fora da Igreja. (…) temos a responsabilidade por convênio de buscar nossos antepassados e de prover-lhes as ordenanças de salvação do evangelho” (“O Coração dos Filhos Voltar-se-á”, A Liahona,novembro de 2011, p. 24).
Por esse motivo pesquisamos a história da família, construímos templos e fazemos ordenanças vicárias. Por esse motivo Elias foi enviado para restaurar a autoridade de selamento que liga na Terra e no céu. Somos os agentes do Senhor no trabalho de salvação e exaltação que impedirá “que a Terra toda (…) seja ferida com uma maldição” (D&C 110:15) quando Ele voltar. Esse é nosso dever e nossa grande bênção.
Na Igreja, os registros de história da família indexados ajudam os pesquisadores da história da família a encontrar informações para enviar o trabalho ao templo, permitindo que as ordenanças do templo sejam realizadas em favor dos antepassados falecidos que aguardam, na prisão espiritual, por uma oportunidade de aceitar as ordenanças realizadas para eles.
Os que se encontram encarcerados na Prisão Estadual de Utah, indexam milhões de nomes por ano. Muitos estão descobrindo que eles, também, estão colhendo as bênçãos do serviço. Atrás dos muros da prisão, o programa de indexação da Igreja está libertando tanto aqueles por quem o trabalho está sendo feito, como, de muitas formas, os que estão fazendo o trabalho, —os internos.
Indexação na Prisão
O programa de história da família tem estado presente na Prisão Estadual de Utah, de uma forma ou outra, por mais de duas décadas. Com início em janeiro de 2010, os internos passaram do antigo sistema de extração—copiar antigos registros à mão em cartões— para o programa de indexação digital.
Atualmente, quatro das seis “unidades” que compõem a prisão têm centros de história da família. Compartilhados entre essas unidades prisionais existem 95 computadores.
Os internos de cada uma dessas quatro dependências têm a oportunidade de participar durante uma hora de cada vez, várias vezes por dia, se desejarem. Alguns despendem até oito horas por dia, seis dias por semana, fazendo o trabalho de história da família. Cada centro de história da família localiza-se dentro da unidade. Todas, menos uma, possuem uma capela onde o trabalho pode ser feito. Cada centro é supervisionado por voluntários.
Muitos são chamados de unidades próximas da Igreja, mas um grande número é de voluntários. Os diretores, que são chamados especialmente em estacas próximas, supervisionam os esforços dos voluntários em cada uma das dependências.
Brent Powell é um analista comercial do Departamento de História da Família da Igreja que também serve como voluntário durante 10-20 horas por semana na prisão. Ele supervisiona o funcionamento dos computadores dos centros de história da família da prisão.
O irmão Powell explicou que, por não ser permitido o acesso à Internet aos internos, foi estabelecido um processo especial para que eles tivessem acesso aos lotes de registros históricos. Assim, os internos podem então extrair informações, a fim de fornecer índices acessíveis.
Primeiramente, o voluntários carregam lotes do FamilySearch.org para um pen drive. Essa informação é, então, colocada em um servidor na prisão. Outro voluntário tira as informações do servidor e as distribui aos quatro centros locais de história da família. Os internos podem, então, transferir as informações dos registros históricos para formulários do programa de indexação FamilySearch, que foi baixado nos computadores. Uma vez que terminem os registros que lhes foram designados, as informações são reunidas por um voluntário, colocadas no pen drive do voluntário e transmitidas para o Departamento de História da Família da Igreja. Muitos internos trabalham também em seus próprios PAFs, onde os usuários podem lançar nomes, datas e outras informações em um banco de dados e podem então classificar e procurar os dados genealógicos e imprimir formulários e gráficos.
Programas semelhantes existem em escala muito menor, em instalações correcionais em outras partes de Utah e Idaho, EUA, assim como na Inglaterra. O incentivo do programa de história da família dentro dessas instalações é dirigido eclesiasticamente.
As Bênçãos da Participação
Entre 2003 e 2010, os internos da Prisão Estadual de Utah indexaram mais de seis milhões de nomes.
Durante os primeiros sete meses de 2011, eles doaram cerca de 35.000 horas, indexando 1,8 milhão de nomes. Estima-se que, pelo fim do ano, os aproximadamente 660 internos participantes indexarão um total de três milhões de nomes.
De acordo com o irmão Powell, o sucesso do programa é atribuído ao fato de que tanto os voluntários como os internos estão completamente inteirados das bênçãos temporais e espirituais que advêm dessa participação.
“Uma das boas coisas referentes ao programa de história da família é que acentua a lei da Expiação, porque podemos ver as pessoas modificando sua vida”, disse o irmão Powell. “A maioria deles quer mudar, e é uma oportunidade positiva saber que isso está sendo útil a essas pessoas”.
O irmão Powell, juntamente com cerca de 140 outros voluntários da história da família na prisão, também considera seu serviço como uma oportunidade de fazer com que cresça seu próprio testemunho. “Você sabe que seu tempo gasto ajudando os internos é apreciado”, disse ele.
Angie é uma dessas internas que apreciam o programa. Encarcerada na divisão feminina desde 2007, ela ajuda na orientação no centro de história da família. Ela ensina as participantes a fazer a história da família, particularmente a indexação e a criação de PAFs.
“A cultura média das mulheres na prisão é de primeiro grau incompleto”, disse ela. “Por meio da história da família, as [mulheres] recebem noções de matemática, história, geografia, leitura, escrita, ortografia e pesquisa. Todas nos reunimos e trabalhamos juntas para decifrar letras. Vejo-as ensinarem entre si e cuidar umas das outras”.
Do outro lado de uma cerca, no alojamento masculino de segurança média (chamado “Oquirrh”), Terry observa resultados semelhantes.
“Há muitos benefícios temporais—eles aprendem a digitar e a trabalhar com computadores. Aprendem a fazer algo que vale a pena. E eu aprendo paciência“, disse ele. ”Isso mantém os internos ocupados. Faz com que não se metam em apuros e que participem de um bom ambiente. E isso aumenta sua autoestima“.
Uma mulher, na prisão, não tinha contato com o filho havia três anos. Mas, quando lhe enviou certos trabalhos da história da família que havia compilado, a avó do menino, que era sua tutora, respondeu à sua carta e deu-lhe permissão para entrar regularmente em contato com o filho.
Uma outra jovem, que não tinha contato com os pais havia muito tempo, recebeu, certo dia, um pacote. Uma tia, por parte de pai, que ela nem sabia existir, ouvira que ela estava na prisão e enviou-lhe registros genealógicos.
”Para a maioria, a família foi parte do problema que as trouxe para cá“, disse Angie. ”Agora, estão encontrando parte da família que não é uma parte do problema. Isso lhes dá algo a que se agarrarem“.
Muitos dos internos que participam do centro de história da família de Oquirrh não são SUD, mas todos podem ver a vantagem de possuir registros, quando começam a procurar sua própria história da família.
”Isso lhes dá um sentido de pertencer e de realizar“, disse Terry. ”Muitos de nós não sabemos muito a respeito de nossa família—quem foram e por onde andam, de onde vieram. Começam a surgir narrativas, e eles podem ver ligações com seu passado. Estão fazendo algo que vai além de si mesmos“.
Quando um interno sai, tem a opção de levar com ele um disquete com todo o seu trabalho de história da família, para que possa continuar fora da prisão.
Além do Arame Farpado
A participação no programa da história da família cresceu durante os últimos meses.
”Os serões e outras atividades elevaram a consciência pelo programa“, disse o irmão Powell. ”O presidente do Templo de Draper Utah veio [à prisão] e explicou o 'porquê' do programa—o que acontece depois que é feita a indexação.“
”A sala de história da família. (…) abre o coração até mesmo do mais empedernido“, disse Angie. ”Às vezes sentimos como se o céu estivesse bem ali“,
Terry disse que aprecia especialmente pesquisar para encontrar filhos que estão faltando nas famílias.
”Isso me permite servir“, disse ele. ”A capela é o melhor lugar da prisão. Gosto muito de observar o Espírito apresentar-Se no rosto de pessoas que você nunca pensou que participariam.“
Algumas dessas pessoas que nunca acharam que se envolveriam são as que voltam com mais frequência, disse Angie.
”Há um pequeno brilho de esperança, quando aprendemos a respeito dessas pessoas sobre quem estamos pesquisando. Algumas delas não tinham emprego, cometeram erros“, disse ela. ”As [mulheres] passam a entender que não importa quem sejamos ou o que tenhamos feito, Deus (…) nos ama o suficiente para (…) prover um local de paz e cura.“
Quando os internos chegam a entender o programa de história da família e a doutrina da Igreja referente à família, muitos encontram um maior propósito naquilo que fazem e em sua própria vida.
”Isso me ajudou a saber que ainda sou reivindicada por meu Pai Celestial“, disse Angie. ”Isso me dá esperança a respeito do processo de arrependimento. Como, durmo e respiro esperança de que possa voltar para casa, de que posso ser resgatada.“
E, sejam ou não SUD, os intermos que trabalham nos centros de história da família na Prisão Estadual de Utah estão descobrindo que—até certo ponto— se acham realmente resgatados.
Fonte: lds.org
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