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segunda-feira, 14 de junho de 2010

O professor que virou comprador de escolas - Carlos Wizard

Há pouco mais de 20 anos, quando precisava escolher o nome da escola de inglês que estava criando, o empresário Carlos Martins se lembrou do homem de lata que queria um coração, do leão que buscava coragem e do espantalho que faria tudo por um cérebro. Martins sempre gostou da estória infantil O Mágico de Oz (do inglês The Wonderful Wizard of Oz) porque é recheada de exemplos de superação.

Inspirado no livro do escritor americano Lyman Frank Baum, o dono da Wizard transformou a empresa que começou com aulas particulares na sala de sua casa na maior rede de ensino de idiomas do Brasil. Na noite da última sexta-feira, o empresário deu mais um passo. Largo: comprou 100% da Microlins, passando a acumular a liderança no segmento de ensino profissionalizante em número de escolas. "Essa é uma área com grande potencial. O País ainda é muito carente na formação de mão de obra qualificada", diz Martins.

A aquisição - que deve ser anunciada hoje e foi antecipada pelo Estado na edição de sábado - foi a sexta do Grupo Multi nos últimos quatro anos. Além da Wizard, o grupo é controlador das marcas de ensino de idiomas Skill e Alps, e também das redes de ensino profissionalizante People e SOS. Ao todo, são duas mil escolas no Brasil e países da América Latina, Estados Unidos, Europa e Ásia. Com a compra das 750 franquias da Microlins, serão agora cerca de mil unidades voltadas apenas para a educação profissional.

O valor do negócio não foi revelado, mas será pago com recursos próprios e empréstimo bancário - meio a meio. Considerando o faturamento de R$ 400 milhões da Microlins em 2009, o Multi espera fechar o ano com uma receita de R$ 1,6 bilhão.

Esse não foi o primeiro contato entre as duas empresas. "Há três anos tentamos comprar a Microlins, mas não conseguimos chegar a um acordo quanto ao valor", afirma Charles Martins, filho de Carlos, responsável pela área de fusões e aquisições do grupo. Sem fechar o negócio com o Multi, a Microlins acabou vendendo, em agosto de 2008, uma fatia de 30% para a rede de universidades Anhanguera Educacional.

A nova aquisição do Multi foi acompanhada por uma mudança em sua gestão. Na tentativa de começar a profissionalizar a empresa familiar, o grupo acaba de criar um conselho de administração. "Já estamos nos preparando para abrir o capital. Essa será nossa meta número um para o ano que vem", diz o fundador. "O sucesso acontece quando a preparação encontra uma oportunidade", complementa.

Perfil. Carlos Martins tem o hábito de condensar pensamentos de motivação em frases de efeito. Aos amigos, costuma distribuir uma coletânea de 100 frases de sua autoria - em inglês e português. Escreveu também o livro de autoajuda "Vencendo a Própria Crise", sobre sua trajetória e sua experiência como missionário mórmon.

O empresário curitibano, de 53 anos, é membro da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Dez por cento de tudo o que ganha vai para igreja. Como prega a religião, não fuma e não bebe. O café também não faz parte dos seus hábitos, já que para os mórmons a cafeína traz danos ao organismo. Casado há trinta anos, Martins tem seis filhos - um deles, Lincoln, que também está no comando do grupo, é bispo da Igreja.

Foi o pai do empresário que decidiu levar toda a família para a religião. "Ele dizia que havia muita maldade no mundo e que a gente precisava ter princípios e orientação", diz Martins.

Aos 17 anos, ele foi para os Estados Unidos aperfeiçoar o inglês e entrou em contato com os métodos de ensino de idiomas do maior centro mórmon do país, a Brigham Young University, em Salt Lake City, no estado de Utah.

Depois de um tempo como missionário em Portugal e de outro período em Utah para fazer a faculdade de ciências da computação, Martins voltou ao Brasil no final dos anos 80, como executivo de uma empresa de papel e celulose, em Campinas.

Começou então a dar aulas particulares de inglês para os colegas do trabalho na sala da sua casa depois do expediente. Aos poucos, as turmas começaram a crescer. Sua mulher passou a dar aulas também e o período da noite ficou curto para o atender todos os alunos. Em 1987, contrariando os conselhos dos amigos, Martins decidiu deixar o emprego e abrir a Wizard, apesar da época turbulenta que economia brasileira atravessava, marcada pela escalada dos preços e por uma série de planos econômicos que não deram certo.

Em 89, estimulado por uma franqueada de Mogi Mirim (SP), que está na rede até hoje, Martins decidiu incorporar o "Wizard" ao seu nome de batismo. Virou Carlos Wizard Martins. Ao longo de mais de 20 anos, o professor de inglês foi dando lugar ao empresário, que transformou o grupo Multi na principal companhia consolidadora do setor.

Expansão por aquisições. Para Adir Ribeiro, especialista em franchising da consultoria Praxis Education, a compra da Microlins vai exigir mais do grupo. "O Multi tem um bom histórico de integrações. Mas a Microlins tem um porte muito maior do que as compras feitas até agora", afirma.

O modelo de aquisições em série não é unanimidade no setor como a melhor alternativa para o crescimento. A rede de escolas de idiomas Fisk, segunda maior do setor, optou por se expandir apenas organicamente. "Compramos a rede PBF na década de 80 e não vamos repetir a estratégia", diz Christian Ambros, diretor de marketing da Fundação Fisk. "As aquisições são boas para o franqueador e ruins para os franqueados."

A lógica do raciocínio de Ambros está no fato de que escolas com bandeiras diferentes - mesmo que estejam subordinadas ao mesmo dono - acabam, naturalmente, tornando-se concorrentes. É exatamente esse embate entre empresas "irmãs" que poderia gerar desconforto entre os franqueados.

Apesar das críticas, a estratégia de criação de uma espécie de guarda-chuva para abrigar um grupo de franquias é uma tendência em mercados maduros. Um dos principais exemplos é a Regis Corporation, rede que reúne quase 13 mil salões de beleza próprios e franqueados com mais de 30 marcas nos Estados Unidos e na Europa.

Com um faturamento de U$ 2,6 bilhões, a empresa está entre as 1000 maiores empresas na lista da revista americana Fortune e tem capital aberto na Bolsa de Nova York. "Ter várias marcas é a forma das empresas franqueadoras ganharem tamanho e terem acesso à bolsa", diz Marcelo Cherto, presidente do Grupo Cherto, que presta consultoria para redes de franquias.

Além da possibilidade de capitalização, as franquias, em bloco, conseguem uma série de ganhos de escala. Em 2007, as redes de alimentação Gendai, de restaurantes japoneses, e China in Box, de comida chinesa, se fundiram. Como muitos dos insumos utilizados pelas empresas são os mesmos - de guardanapos e refrigerantes a ingredientes culinários - as economias em compras conjuntas dos fornecedores chegaram a 30%.

No caso da junção Wizard e Microlins, há pelo menos duas áreas em que poderá haver sinergia, de acordo com Cherto: na equipe de gestão e treinamento das escolas e na edição de livros didáticos. / COLABOROU MELINA COSTA

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A origem
A Wizard foi criada em 1987 na sala da casa de Carlos Martins. Hoje a escola tem aproximadamente 1200 unidades - é a maior marca do grupo Multi, que até a compra da Microlins tinha 500 mil alunos matriculados

Aquisições
Um ano depois de comprar a Yeski, de Campinas, a Wizard adquiriu a rede Skill, de São Paulo, em 2007. De lá para cá, fez mais quatro compras. Antes da Microlins, a última havia sido a SOS Educação Profissional

Internacionalização
O grupo Multi abriu sua primeira unidade fora do País em 2002, nos Estados Unidos. No ano passado, estreou no México e na Colômbia. Neste ano, chegou à China para ensinar inglês aos chineses. Está presente em 10 países
Fonte: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100614/not_imp566158,0.php

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