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quarta-feira, 18 de abril de 2012

Os Misericordiosos Obterão Misericórdia - Pres. Uchtdorf

Os Misericordiosos Obterão Misericórdia
Presidente Dieter F. Uchtdorf
Segundo Conselheiro na Primeira Presidência

Meus amados irmãos e irmãs, há algum tempo recebi uma carta de uma mãe preocupada que me pedia para fazer um discurso na conferência geral sobre um tópico que poderia especificamente ajudar os dois filhos dela. Uma contenda havia surgido entre eles, e tinham parado de se falar. A mãe ficou desolada. Na carta, ela me assegurava que uma mensagem na conferência geral sobre esse assunto traria a reconciliação entre seus filhos e tudo ficaria bem.

O apelo sincero e profundo dessa boa irmã foi apenas uma das muitas sugestões que tenho recebido nos últimos meses para que dissesse algumas palavras sobre um assunto de crescente preocupação — não só para uma mãe preocupada, mas para muitos na Igreja e, de fato, no mundo todo.

Fiquei tocado pela fé dessa mãe amorosa de que um discurso da conferência geral pudesse ajudar a curar um relacionamento entre seus filhos. Tenho certeza de que a confiança dela não repousa tanto nas habilidades dos oradores quanto na “virtude da palavra de Deus”, que “[surte] efeito mais poderoso sobre a mente do povo do que (…) qualquer outra coisa”.1 Querida irmã, oro para que o Espírito toque o coração de seus filhos.

Quando os Relacionamentos Não Vão Bem

Relacionamentos estremecidos ou arruinados são uma coisa tão antiga quanto à própria humanidade. Caim, na Antiguidade, foi o primeiro a permitir que o câncer da amargura e da malícia tomasse seu coração. Ele plantou no solo da própria alma a inveja e o ódio e permitiu que esses sentimentos amadurecessem até que fez o impensável — assassinar seu próprio irmão e tornar-se por isso o pai das mentiras de Satanás.2

Desde aquela época, o espírito de inveja e ódio tem levado alguns a protagonizar as mais trágicas histórias. Ele fez Saul voltar-se contra Davi, os filhos de Jacó contra seu irmão, José, Lamã e Lemuel contra Néfi, e Amaliquias contra Morôni.

Imagino que cada pessoa na Terra tenha sido afetada de alguma forma pelo destrutivo espírito de contenda, ressentimento e vingança. Talvez haja momentos em que reconheçamos esse espírito em nós mesmos. Ao nos sentirmos magoados, nervosos ou invejosos, é muito fácil julgar os outros, em geral presumindo motivos torpes em suas ações para justificar nossos próprios ressentimentos.

A Doutrina

Claro que sabemos que isso é errado. A doutrina é clara. Todos nós dependemos do Salvador; ninguém pode ser salvo sem Ele. A Expiação de Cristo é infinita e eterna. O perdão de nossos pecados só vem condicionalmente. Devemos arrepender-nos e precisamos ter o desejo de perdoar os outros. Jesus ensinou: “[Perdoai-vos] uns aos outros; pois aquele que não perdoa (…) está em condenação diante do Senhor; pois nele permanece o pecado maior”3 e “Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia”.4

É claro que tais palavras soam totalmente adequadas — quando se aplicam aos outros. É claro e fácil perceber os resultados danosos que advêm quando os outros julgam e guardam rancor. E com certeza não gostamos nada de quando os outros nos julgam.

Mas no que diz respeito a nossos preconceitos e nossas queixas, frequentemente consideramos justa nossa raiva e o nosso julgamento como confiável e apropriado. Embora não possamos ver o coração do outro, presumimos que conhecemos motivações ruins ou até mesmo que sabemos que a pessoa é má. Achamos que é exceção quando é a nossa própria amargura porque sentimos que, no nosso caso, temos toda a informação necessária que justifica desprezar alguém.

O Apóstolo Paulo, em sua carta aos romanos, disse que julgar os outros é “inescusável”. No momento em que julgamos os outros, explicou ele, condenamos a nós próprios, pois ninguém há sem pecado.5 Recusar-se a perdoar é um pecado grave — pecado contra o qual o Salvador alertou. Os próprios discípulos de Jesus “procuraram pretextos uns contra os outros e em seu coração não se perdoaram; e por esse mal foram afligidos e severamente repreendidos”.6

Nosso Salvador falou com tanta clareza sobre isso que pouco espaço há para interpretações. “Eu, o Senhor, perdoarei a quem desejo perdoar”, mas Ele disse, “de vós é exigido que perdoeis a todos os homens”.7

Posso acrescentar algo aqui? Quando o Senhor requer que perdoemos a todos os homens — isso inclui perdoar a nós mesmos. Às vezes, de todas as pessoas do mundo, a que temos maior dificuldade de perdoar — assim como a que talvez mais precise do perdão — é aquela que encaramos ao olhar no espelho.

Resumindo

Esse assunto de julgar os outros poderia, de fato, ser ensinado em um sermão de duas palavras. No que se relaciona a ódio, maledicência, desprezo, infâmia, rancor ou o desejo de magoar, apliquem o seguinte:

Parem já!

É muito simples. Simplesmente temos de parar de julgar os outros e devemos substituir os pensamentos e sentimentos dessa natureza por um coração cheio de amor a Deus e a Seus filhos. Deus é nosso Pai. Somos Seus filhos. Somos todos irmãos e irmãs. Não tenho palavras exatas para expressar com suficiente eloquência, ardor e persuasão para que fique bem marcada essa questão de não julgar os outros. Consigo citar escrituras, tentar expor a doutrina e vou até mesmo citar um adesivo que vi recentemente. Estava afixado no para-choque traseiro de um carro cujo motorista parecia ser um pouco ríspido, mas as palavras do adesivo ensinam uma lição profunda. Dizia: “Não me julgue só porque o meu pecado é diferente do seu”.

Devemos reconhecer que todos somos imperfeitos — que somos todos mendigos diante de Deus. Quem entre nós, em uma ocasião ou outra, ainda não se aproximou do trono da misericórdia e implorou pela graça? Não ansiamos com toda a força da alma pela misericórdia — pelo perdão dos erros e pecados que cometemos?

Por dependermos todos da misericórdia de Deus, como podemos negar aos outros, em qualquer medida, a graça de que desesperadamente também necessitamos? Meus amados irmãos e irmãs, não devemos perdoar da mesma forma que desejamos o perdão?

O Amor de Deus

É difícil fazer isso?

Claro que sim!

Perdoar a nós mesmos e aos outros não é fácil. De fato, a maioria de nós precisará de uma mudança de atitude e da maneira de pensar — até mesmo uma mudança de coração. Mas a boa notícia é que essa “vigorosa mudança”8 de coração é exatamente a que o evangelho de Jesus Cristo pode trazer a nossa vida.

Como ela se dá? Por meio do amor de Deus.

Quando nosso coração está repleto do amor de Deus, algo bom e puro acontece a nós. “[Guardamos] os seus mandamentos; e os seus mandamentos não são pesados. Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo.”9

Quanto mais permitirmos que o amor de Deus governe nossa mente e nossas emoções — quanto mais nosso amor pelo Pai Celestial aumentar em nosso coração — mais fácil será amar os outros com o puro amor de Cristo. Ao abrirmos nosso coração para a resplandecente alvorada do amor de Deus, a escuridão e o frio da animosidade e da inveja vão-se definhar.

Como sempre, Cristo é o nosso exemplo. Em Seus ensinamentos e em Sua vida, Ele mostrou-nos o caminho. Ele amou os iníquos e os perdoou, assim como aos vis e àqueles que procuraram feri-Lo e magoá-Lo.

Jesus disse que é fácil amar a quem nos ama; até mesmo os iníquos conseguem isso. Porém, Jesus Cristo ensinou uma lei mais elevada. Suas palavras ecoam através dos séculos e servem para nós hoje. Elas se destinam a todos os que desejam ser Seus discípulos. Elas se destinam a vocês e a mim: “Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem”.10

Quando nosso coração se enche do amor de Deus, tornamo-nos “para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-[nos] uns aos outros, como também Deus [nos] perdoou em Cristo”.11

O puro amor de Cristo pode remover as escamas de ressentimento e a ira de nossos olhos, permitindo-nos ver os outros da maneira que o Pai Celestial vê a nós: como mortais imperfeitos e falhos que têm potencial e valor muito além do que conseguirmos imaginar. Por Deus nos amar tanto, nós também devemos amar-nos e perdoar uns aos outros.

O Caminho do Discípulo

Meus queridos irmãos e irmãs, considerem estas perguntas como um teste pessoal:

Você abriga ressentimento contra alguém?

Você espalha confidências, mesmo quando seu conteúdo possa ser verdadeiro?

Você exclui, afasta ou castiga outras pessoas por algo que tenham feito?

Você inveja alguém secretamente?

Deseja causar mal a alguém?

Se você respondeu sim a uma dessas perguntas, talvez queira aplicar o sermão de duas palavras que preguei antes: Pare já!

Em um mundo pleno de acusação e inimizade, é fácil reunir pedras e atirá-las. Mas antes de pensar em fazer isso, lembremo-nos das palavras Daquele que é nosso Mestre e modelo: “Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra”.12

Irmãos e irmãs, vamos abandonar nossas pedras.

Sejamos bondosos.

Perdoemos.

Falemos uns aos outros com mansidão.

Deixemos que o amor de Deus encha nosso coração.

“Façamos bem a todos.”13

O Salvador prometeu: “Dai, e ser-vos-á dado; boa medida, recalcada, sacudida e transbordando, (…) porque com a mesma medida com que medirdes também vos medirão de novo”.14

Não deveria essa promessa bastar para sempre empreendermos esforços em atos de bondade, perdão e caridade, em vez de termos qualquer comportamento negativo?

Vamos nós, como discípulos de Jesus Cristo, pagar o mal com o bem.15 Não vamos nos vingar ou permitir que a ira nos domine.

“Porque está escrito: Minha é a vingança; eu recompensarei, diz o Senhor.

Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. (…)

Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem.”16

Lembrem-se: no final, são os misericordiosos que obterão a misericórdia.17

Como membros da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, onde quer que estejamos, que sejamos conhecidos como aqueles que “[amam] uns aos outros”.18

Amai-vos Uns aos Outros

Irmãos e irmãs já existem pesar e tristeza suficientes nesta vida sem precisarmos acrescentar a isso teimosia, amargura e ressentimentos.

Não somos perfeitos.

As pessoas ao nosso redor não são perfeitas.19 Às vezes fazem coisas que nos incomodam, decepcionam e enraivecem. Nesta vida mortal sempre será assim.

No entanto, devemos livrar-nos dos ressentimentos. Parte do propósito da mortalidade é aprender a nos livrar de tais coisas. Este é o caminho do Senhor.

Lembrem-se de que o céu está cheio de pessoas que têm em comum o seguinte: Elas foram perdoadas. E elas perdoam.

Depositem sua carga aos pés do Salvador. Parem de julgar. Permitam que a Expiação de Cristo mude e cure seu coração. Amem uns aos outros. Perdoem uns aos outros.

Os misericordiosos obterão misericórdia.

Disso testifico em nome Daquele que amou tanto e tão completamente que deu Sua vida por nós, Seus amigos — no sagrado nome de Jesus Cristo. Amém.


Notas

4. Mateus 5:7.
5. Ver Romanos 2:1.
7. Doutrina e Convênios 64:10; grifo do autor.
9. I João 5:3–4
10. Mateus 5:44; ver também versículos 45–47.
11. Efésios 4:32.
12. João 8:7.
13. Gálatas 6:10.
14. Lucas 6:38.
15. Ver Mateus 5:39–41.
16. Romanos 12:19–21.
17. Ver Mateus 5:7.
18. João 13:35.
19. Ver Romanos 3:23.

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